sábado, 28 de março de 2015

A má hora (o veneno da madrugada) - Gabriel García Márquez

Eis um livro que eu não consigo achar explicação. Um dia decidi arrumar meus livros e papéis do colégio (faz muito tempo isso) e achei esse livro lá. Peguei e coloquei na pilha de livros para ler, assumo que só pelo autor, não me lembrava do livro.
Abri o livro um dia desses e lá estava meu nome e a 7°D. Na capa tem uns adesivos de ratinhos super agasalhados, bem pequenininhos e brilhantes, eu lembro de amá-los, considerá-los os mais lindos de todos. Dentro do livro não tem uma única anotação, nem mesmo de palavras que ainda hoje eu tenho que olhar no dicionário, não tinha uma folha amassada, e os desenhos internos, bem um tanto indecentes para adolescentes da minha época, além dos palavrões no texto. Tenho certeza que se eu tivesse lido o livro eu me lembraria deles.
Mas ai é que me falta a explicação. Como eu, leitora compulsiva, aluna exemplar, não li um livro no ensino fundamental? Prometo que minha memória é incrivelmente boa para livros. Os pais proibiram o livro? Sério, eu considero essa uma das opções. Minha escola era cheia de frescuras.


O melhor do livro é o seu estilo. Eu ainda não tenho certeza do que aconteceu, mas acredito que essa era a intenção do autor. Criar um clima de suspeita, de incerteza e de insegurança.
O livro começa com a descrição dos primeiros movimentos de habitantes de uma pequena aldeia. Na noite anterior alguém fizera uma serenata, esse era o comentário geral. Então um homem após sair de casa pronto para passar dias fora, encontra um papel em sua porta. O lê. O rasga. Pega sua arma e mata o homem que fizera a serenata. Depois descobre-se que o pasquim, mais um de muitos que atormentavam a aldeia, dizia que a mulher desse homem tinha um caso com o homem da serenata.
Depois disso, o livro continua a narrativa descontinua do que se passa na aldeia. Vislumbres dos seus habitantes, suas famílias e seus medos. O país, dizia-se que fazia pouco tempo saíra de uma situação política muito tensa onde as pessoas eram mortas por suas crenças, e o governo imposto à força. No entanto, aparentemente as coisas não tinham mudado tanto.
E as coisas na aldeia vão de mal a pior. A viúva Montiel enlouquece, o alcaide impõe sua vontade com a força e com isso enriquece, o barbeiro vive com medo de morrer, o juiz Arcadio foge da cidade deixando sua mulher grávida... aos poucos a cidade vai ficando abandonada e os que ficam estão apreensivos.

Não ficou um bom resumo, mas eu acho que isso é por causa da narrativa. O lugar pode ser uma aldeia qualquer. A situação política não é explicada. São muitos personagens, nenhum é aprofundado, mas todos são complicados e têm seus papéis na aldeia e na história. Nenhum pasquim é transcrito. Nenhum autor é de fato encontrado. Alguns mistérios continuam mistérios. Só lendo para se envolver com a trama e conformar-se com o final.

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