quinta-feira, 19 de março de 2015

A consciência de Zeno - Italo Svevo

Eu não sei em que momento da minha graduação me recomendaram esse livro, não me lembro o professor ou o motivo. Só sei que este livro esteve durante muito tempo na minha lista de livros para ler antes de morrer. Estava lá sem eu nada saber dele, não sabia quem era Italo Svevo, sabia que era italiano... Um dia eu fui na livraria e lá estava ele em versão de bolso (adoro versão de bolso!), comprei, junto com a Ilíada, e ficou na prateleira, e ficou... comecei a ler, ai vieram os livros da Diana Wynne Jones, e ele ficou lá me esperando com seus capítulos enormes. Praticamente o último da pilha dos não lidos em papel, falta tipo uns 5...
É! É isso mesmo eu o reneguei! E ainda agora, depois de ter terminado de ler eu não sei!


O livro é a narração das memórias de Zeno, um senhor (apesar de eu duvidar que eles esteja assim tão velho, o tempo é uma questão muito confusa nesse livro, às vezes em meio a uma narração eu acreditava terem se passado dias, mas ainda era só a hora do almoço, literalmente!) que tem algo que poderia ser chamado de doença, ou melhor ele acredita que tem uma doença. A questão é que ele sempre foi fixado pela ideia de parar de fumar. Ele se lembra de fumar os charutos do pai quando criança, e continua a fumar quando adulto, com a diferença que a sensação de culpa e doença com relação ao cigarro aumentaram, e ele vive com o propósito de parar de fumar. Tenta todos os métodos possíveis, médicos variados, até que um psicanalista recomenda que ele escreva esse diário para forçá-lo a pensar sobre o seu relacionamento com o cigarro.
Assim, Zeno narra sua infância, sua relação com sua mãe que morreu cedo, seu pai com quem tinha uma relação perturbada, mas que no final da vida dele Zeno tentou se reaproximar, mas ainda assim a última tentativa do pai foi tentar lhe dar um tapa...
Narra também a história de seu casamento. Zeno herdara a fortuna de seu pai, mas não a direção dos seus negócios, assim ele tinha tempo de sobra, e em um dado momento ele resolveu passar um tempo na Bolsa de Trieste, onde conhece o senhor Malfenti, com quem trava amizade. O senhor Malfenti possui quatro filhas famosas por sua beleza. Zeno vai conhecê-las e se enamora por Ada a mais bonita, Augusta é vesga, Alberta só se interessa pelos estudos e Ana é apenas uma criança. Zeno faz de tudo para chamar a atenção de Ada, mas só consegue sua indiferença. Um dia a senhora Malfenti pede para que Zeno se comprometa com Augusta ou deixe de frequentar-lhe a casa pois comprometia a jovem. Zeno surta, incapaz de entender como suas intenções foram tão mal interpretadas. Passa um tempo distante da família, e quando volta, decidido a se declarar se depara com Guido um jovem, bonito e desenvolto rapaz por quem Ada deixa claro seu afeto. Ainda assim, Zeno se declara, recebe um não. Então vai lá e se declara para Alberta que, de forma mais agradável, também lhe recusa a proposta, só então pede Augusta em casamento deixando claro que ela é a sua terceira opção e que por ela não tem amor. E Augusta aceita.
Casado Zeno acaba por amar sua mulher, tem dois filhos, inúmeras amantes, é enganado pelo sogro, sofre de sua doença, e tenta se convencer, e convencer a nós que ele superou Ada e até se tornou amigo de Guido, mesmo depois de ter a clara intenção de matá-lo. Guido é um péssimo marido e péssimo comerciante, assim Zeno que também não é nada bom passa pelo melhor marido do mundo, ainda que sempre esperando pela chance de ter algo com Ada.

O último capítulo é o melhor! Ele assume que boa parte do que foi dito anteriormente pode ser mentira pois sendo ele de Trieste sabia muito bem falar Italiano, mas escrever já era outra coisa, já que lá eles usavam muito mais o dialeto local. Assim, ele usava apenas as palavras que conhecia e não as corretas.
E a melhor parte e a narração de sua experiência com a guerra. O seu primeiro contato com ela. Zeno e sua família está passando uns dias no campo, e ele resolve sair bem sedo, sem tomar café, para dar uma volta. E quando está retornando ele vê uma tropa de soldados passando, mais adiante ele tem seu caminho barrado, ele é impossibilitado de ir para casa, e forçado a voltar para Trieste sem saber da sua família. Passa por um tempo sem saber deles, mas depois descobre que estão todos bem. Então ele escreve ao médico dizendo que enfim está curado, e não por causa da psicanálise, mas porque ele acreditava estar vivendo a sua vida, aquilo para que ele havia nascido, até então era apenas um prelúdio.

As páginas finais ele descreve o fim da humanidade causado por ela própria, com uma bomba potentíssima... isso tudo muito antes da criação da bomba atômica. Interessante.

Ainda não sei, como já disse, o que achei desse livro, é bom, é bem escrito, algumas partes prendem a atenção, mas acho que eu fiquei confuso, tudo é tão visivelmente mentira. Ele insiste que é amigo de Guido e que superou Ada mas nada faz com que acreditemos nisso, o mesmo é válido por seu amor por Augusta, ele apenas segue as regras dela, satisfaz suas vontades... Mas talvez fosse essa a intenção do autor. Ou então um resultado da sua doença. Sei lá.

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