Aprendi, também no primeiro ano da faculdade, que os clássicos são clássicos por algum motivo. Se alguém escreveu um livro séculos atrás e as pessoas continuam lendo, com certeza existe um motivo. Cada vez mais eu descubro as suas belezas.
Talvez A confissão de um filho do século não seja assim tão clássico. Mas foi o primeiro livro que entrou para a minha lista. Algum professor, ou algum texto, fazia uma citação do seu segundo capítulo, um explicação do mal do século XIX, dos jovens que depois do fim das guerras napoleônicas se viram jogados em uma indiferença. Eu me apaixonei ai, foi quase um elogio à morte, mas ainda assim:
"Era o ar desse céu sem mancha, onde brilhava tanta glória e resplandecia tanto aço, que a juventude da época respirava. Os jovens sabiam que tinham nascido para hecatombes, mas julgavam Murat invulnerável: o imperador fora visto passar numa ponte onde sibilavam tantas balas que não se sabia se iria morrer. Mas, se devesse morrer, que importava? A própria morte era, então, tão bela e tão grandiosa, tão magnífica com a sua púrpura fumegante! Parecia-se tanto com a esperança, ceifava espigas tão verdes que parecia tornar-se mais moça, e não se acreditava mais na velhice. Todos os berços de França eram escudos, e todos os túmulos também. Não havia velhos. Só havia cadáveres ou semideuses."
O romance é narrado em primeira pessoa pelo jovem Otávio que desde muito cedo tem grande liberdade, que lhe é cedida pelo pai e pelo dinheiro. Otávio tinha uma amante, uma viúva, que era tudo para ele, e apesar de ser jovem ele parecia capaz de um amor muito sincero. Um dia, num jantar, ele descobre carícias entre sua amante e um amigo de infância. Otávio teria sido incapaz de duvidar, mas tendo as provas, conseguindo a confissão de sua amante. Desafio seu amigo para um duelo, do qual Otávio sai com um tiro no braço, nada mortal, ele fica de cama. Sua pior doença são seus sentimentos. Ele acha que vai morrer, não pode amar outra pessoa, mas aquela que ele ama não merece isso.
Ele beira a depressão (por mais que essa não seja a palavra usada). Ele só sai dessa situação com a ajuda (se é que podemos chamar assim) de seu amigo Desgenais, um libertino, que cético, não acredita no amor, mas sim no prazer. Para ele Otávio deve sair e ter quantas amantes quiser sem se importar que ela ame outro no dia seguinte, conquanto que ela o ame naquele exato instante. De início Otávio reluta, mas quando ele sabe que sua antiga amante não só traíra o outro amante, como também zombara dele, ele decide tomar uma atitude: cair na vida libertina, na qual ele já dera os primeiros passos.
Otávio narra sua vida de devassidão muito superficialmente, parece que em meio as orgias, aos jantares, era outra coisa que o interessava. Ele afirma que ele não conseguia distinguir amor de prazer. Conta apenas sobre duas mulheres que possuiu.
Mas isso é interrompido com a morte de seu pai. Então ele se retira no campo onde sofre imensamente, pois não conseguira se despedir de seu pai, e sabe que ele queria muito lhe falar, e que seria para pedir que ele tivesse uma vida direita. Otávio se tranca em casa, e só aos poucos começa a passear pelos campos, ajudar os pobres, parece estar muito mais direito. Até que conhece a senhora Pierson, outra viúva, que morava ali perto com a tia. Ele com ela trava amizade e passa a frequentar a sua casa, e então está perdidamente apaixonado, mas sabe que não pode se declarar.
Resiste ao máximo, até que ela descobre e manda ele embora, e ela mesma vai viajar. Ele não desiste, não tem nada a perder. Tanto faz que descobre que também ela está apaixonada por ele, mas que por causa da sua história de vida não queria se envolver. Mas já não era mais capaz de resistir. No começo eles vivem um belo amor. Até que Otávio não consegue simplesmente amar, com seu amor une-se uma desconfiança, um desejo de a ver sofrer para que não seja ela a fazê-lo de tolo. E apesar de toda a sua maldade ela continua o amando.
E vão vivendo, a vila começa a denegrir a imagem dela. Eles resolvem fugir e viver juntos em paz. Antes de decidirem o rumo param em Paris e lá ficam por um tempo, chegam cartas de seus últimos parentes vivos, e Brigida (a senhora Pierson, já somos íntimos) adoece, fica triste, e recebe a visita de um jovem que ela conhecia desde criança. Otávio quer sofrer e por isso quer ver entre eles um relacionamento, tenta de todas as maneiras. Até que no derradeiro movimento ele a força a dizer o que sente. Ela diz que sua tristeza é por aquilo que ele causa a ela e não por outro amor, que ela o ama e que quer ficar com ele, mas ele a afasta sempre, e que se ele vê outras coisas ela não tem como se defender (aqui eu vi claramente uma relação com Bentinho e Capitu).
Depois dessa confissão Otávio pensa em abandoná-la, em se matar, em matá-la. Há um outro elogio à morte. No momento em que ele vai apunhalá-la ele encontra um crucifixo que ela herdara da tia em seu peito, e passa a acreditar em Deus, na religião. Cristo havia salvado ela. Atordoado e cansado ele vai dormir. Mas não sem antes encontrar uma carta de Brigida para esse antigo amigo, no qual ela lhe declarava o seu amor. Sendo não culpada, pois mantera-se fiel, e estava disposta a morrer por Otávio, mas amava outro.
O último capítulo é narrado em terceira pessoa. Um casal feliz compra alianças, entram em um café, lá na intimidade já não parecem tão felizes. Otávio está se separando de Brigida, deixava ela ser feliz com Smith, viajava ele. No começo ele mandaria cartas para que não fosse um rompimento brusco, mas aos poucos ele pararia. Ele nunca mais a veria. O amor que ele sentia não suportaria isso. Mas ele vai embora feliz, pois das três pessoas que sofreram com aquele louco amor, só uma ficaria triste.
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