terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sr. Bliss


Cada um com o seu vício, a sua mania, e a sua obsessão.
A minha é no Tolkien! Não posso ver um livro seu sem correr na sua direção, descobrir o preço e comprar independente dele. Não foi diferente nesse domingo, quando estávamos a família inteira dentro da livraria, cada um no seu canto, e eu esperando por todos perto da entrada vi um livro que seria algo como a filosofia do Hobbit, não me interessou muito, mas do lado, ali sorrindo pra mim na sua maravilhosa capa dura vinho estava ele, mais um dos fantásticos livros infantis do fabuloso Tolkien. Sério, sai em disparada atrás da minha mãe já preparando o discurso do porque ela deveria comprar aquele livro pra mim, quando ela disse se você corre até o seu pai que ele tá pagando já. Eu literalmente sai correndo, forcei um homem a abrir passagem e joguei o livro em cima do do meu pai, deixando o caixa assustado.
fiquei satisfeita e quase abracei o livro, era ele, ou a Introdução a literatura fantástica, do Todorov, que eu levaria para casa. E sinceramente nada como aumentar uma boa coleção. Com Sr Bliss eu chego ao décimo livro do Tolkien, e o segundo de literatura infantil (desculpa mas o Hobbit fica como infanto juvenil, ou seja, meu sobrinho vai ter que esperar mais pra ouvir!).
Em primeiro lugar eu gostaria de elogiar a edição da Martins Fontes, que traz nas paginas direitas o fac-símile  escrito a mão e desenhado pelo próprio Tolkien, e nas esquerdas a tradução em português. Os desenhos são rústicos, veja bem, lindos! Mas sem nenhuma técnica, o que faz ressaltar a sensação de ter o próprio Tolkien contando a história para mim, mostrando o seu desenho e tudo mais.
A narrativa é bem simples. O sr. Bliss que eu vejo como mais um excêntrico Tom Bombadil, que possui uma casa alta no alto de uma montanha e um giracoelho como animal de estimação e um dia decide comprar um carro amarelo com rodas vermelhas, mas esquece a carteira em casa, leva o carro deixando sua bicicleta como garantia. Saindo da loja resolve ir visitar os seus amigos Dorkins, mas devido a sua falta de aptidão como motorista acaba se unindo ao sr. Day e a senhora Knight, além dos três ursos. Que invadem a casa dos Dorkins, acabam sendo bem recebidos. Mas ao fim da refeição saem em perseguição aos ursos, que entram na floresta e assustam o sr. Bliss, que foje para sua casa.
Lá o giracoelho lhe avisa que existem pessoas subindo a montanha e que estão bravas com ele e querem lhe cobrar aquilo que ele lhes deve. O giracoelho assusta a todos. E depois o sr. Bliss paga os seus amigos e tudo volta ficar bem. É de fato um livro infantil, mas a forma como Tolkien a conta (muito superior a qualquer resumo que eu faça) e os seus desenhos lúdicos fazem dele um ótimo livro para as crianças e pessoas como eu.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Persuasão - Jane Austen


Existe uma única coisa que não pode faltar quando as férias começam, ou quando assim eu decreto: Jane Austen. Nenhuma férias será boa o bastante se eu não tiver lido um de seus livros, muito romance, muita água com açúcar! Mas ainda assim os melhores romances, que eu ainda não consegui encontrar igual.
Meu primeiro contato com essa maravilhosa autora inglesa foi em 2006, quando eu assisti a série de BBC (muito mais antiga do que isso) de orgulho e preconceito, então eu o li. Depois descobri que aquele filme ruinzinho de época com o Hugh Grant também era baseado em um livro seu. Na época procurei toda a sua bibliografia em português para ler, e só encontrei a minha versão bilíngue de Persuasão a um preço acessível (acabei comprando os outros 4 em inglês mesmo, edição livro de bolso, tudo por menos de 40 reais!).
No livro O clube do filme de David Gilmour o narrador diz "(...) que a segunda vez que você vê uma coisa é na verdade a primeira vez. Você precisa saber como a coisa termina antes de poder apreciar sua beleza desde o início". Este livro de Jane Austen é no qual eu sinto precisamente isso. A primeira vez que eu o li (essa já deve ser a quarta, ou mesmo a quinta) eu o achei um pouco enfadonho, uma progressão muito lenta das coisas. E quando finalmente chega no penúltimo capítulo tudo acontece de forma tão sutil, tão simples que realmente aquilo poderia acontecer, enfim acaba com todas as perspectivas de felicidade para o casal!
O romance começa com a descrição do pai da protagonista, Sir Water Elliot, um baronete viúvo, bonito que dá grande importância para o seu título e beleza, porém é incapaz de economizar e por isso é forçado a deixar a sua casa de campo e alugá-la para um almirante e sua esposa. Por acaso essa esposa, Sophie, é irmã do antigo amor de Anne Elliot (a protagonista) uma mulher de 27 anos, que na juventude se apaixonara por um capitão da marinha mas fora persuadida por sua boa amiga (antiga amiga de sua mãe) a não realizar o casamento pois seria ruim para os dois.
Anne como a boa heroína de Austen permanece constante em seu amor pelo capitão Wentworth, e é obrigada a conviver com ele, quando este resolve visitar a irmã, e acaba se aproximando da família do marido da irmã mais nova de Anne. Os Munsgrove possuem duas filhas jovens e um tanto tolas por quem o capitão procura se apaixonar. de início a relação entre eles é extremamente fria, até que eles resolvem fazer uma viagem a Brighton, para visitar amigos do capitão, e vão todos os jovens. O capitão Wentworth já demonstra ciúmes dela quando outro homem a observa e depois dado um acidente ele passa a confiar muito no seu discernimento .
Contudo, a relação que começava a melhorar é cortada, com a partida de Anne para Bath, onde seu pai e sua irmã estavam residindo. Lá ela entra em contato com o seu primo, o mesmo homem que incomodara o capitão, que passa a cortejá-la, apesar de ser um tanto suspeito. Ao mesmo tempo em que seus antigos amigos vão todos para Bath, onde Anne percebe o quanto prefere Wentworth a qualquer homem, mas que esse parece indeciso quanto aos seus atos, pois tudo indica que Anne se casará com o primo e herdará o título e a casa. O que a faz tomar medidas desesperadas.

Como sempre paro antes do fim e antes da minha parte preferida, vai que algum dia alguém leia isso e saiba o final (sempre surpreendente) e decida não ler. Seria uma pena.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Inquilino - Roland Topor



Como eu já disse sou fascinada por literatura fantástica! Meus amigos já se cansaram de me ouvir falar, principalmente quando bebo, sobre ela. Fazer o quê? Ainda não encontrei nada melhor!
Esse semestre fiz uma matéria sobre o mal na literatura, que apesar de ser de sexta de manhã, eu adorei. Como trabalho final tínhamos que fazer uma produção narrativa, que ouvi dizer que não vale nota, e um ensaio sobre algum livro que trouxesse o mal como tema. Eu escolhi, da lista fornecida pelo professor, O Inquilino, um pouco pela explicação dele, um pouco pela crítica nos sebos on-line!
É um livro bem curto - 126 páginas. Escrito em terceira pessoa, mas um tanto subjetivo, muito fácil de ler. Se eu não tivesse lido prestando atenção em cada detalhe, e fazendo anotações a cada segundo, poderia facilmente ter lido em um dia, ficando nervosa, desesperada e apreensiva com o seu desenrolar.
Tá, odeio ter que dizer isso, mas se você é preguiçoso, assista ao filme, dirigido por Roman Polanski, que eu não assisti mas ouvi bons comentários.

A narrativa começa com um homem, Trelkovsky, procurando um novo apartamento pois seria despejado do seu. Ele encontra um que lhe agrada, mas não pode alugá-lo pois a antiga inquilina que havia cometido suicídio saltando da única janela, ainda estava viva no hospital, mas a beira da morte!
Ela acaba morrendo, e Trelkovsky aluga o apartamento, e resolve fazer uma pequena reunião com os seus amigos. É nesse momento que todos os seus problemas começam, os vizinhos reclamam do barulho, o senhorio lhe repreende. E para não ter mais problemas o nosso protagonista fica paranoico com relação ao barulho, e pouco a pouco vai mudando os seus costumes.
Não apenas dentro de casa, pois já não sai mais com os seus amigos, não come a mesma comida, não fuma os mesmos cigarros... Um dia acorda maquiado e dá-se conta de que todos os seus vizinhos estão mancomunados para transformá-lo na antiga inquilina, e conduzi-lo para o mesmo fim. O que o leva a diferentes reações.
E tem um epilogo que vale o livro inteiro!

Não tem como eu contar mais, do contrário acabaria com a graça do livro. E como Todorov disse, diferente da maioria dos textos, um texto fantástico não pode ser lido fora de ordem pois assim perderia-se o seu efeito. Deixemos por isso então, garanto que eu não passei da metade, e que pulei todos os detalhes que constroem a narrativa e a torna verossímil dentro do seu contexto. Sem deixar de causar hesitação no leitor (um pouco mais de Todorov, já que ele também fez parte das minhas leituras para o trabalho!)

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

DOM QUIXOTE - leitura obrigatória!

DOM QUIXOTE DE LA MANCHA - M. CERVANTES



Se tem uma coisa para se dizer sobre D. Quixote é que todo mundo deveria ler.. e não a versão resumida que dão para as crianças/adolescentes lerem na escola. Sério, isso me irritou muito! Fui lá comprei os dois volumes do romance, da editora 34, que está cheio de notas de roda-de-pé, quase 2000 paginas, para algumas pessoas olharem para mim e dizerem que já leram quando eram mais novos mais não se lembram ao certo... Ah! Fala sério! Quem leu jamais se esquece das trapalhadas de Sancho Pança, ou do discernimento confuso de D. Quixote
Dom Quixote deve ser lido integralmente! E com o maior prazer possível! Pois é um dos maiores romances da humanidade. O livro foi escrito em 1605 e 1615, e ainda hoje maravilha seus leitores pela sua originalidade. Provavelmente não há personagem que se iguale ao nosso cavaleiro mentecapto!
O livro começa com D. Quixote, um fidalgo decadente, com cerca de 50 anos, solteiro e um leitor ingenuo cujo excesso de leitura o fizera perder a razão, que decide sair de casa para armar-se cavaleiro andante - figuras históricas que de fato existiram, como os cavaleiros que combateram nas cruzadas; porém, a cavalaria em que ele acreditava era aquela das novelas de cavalaria como Amadis de Gaula, Tirant lo Blanc e Orlando (e outros personagens do ciclo carolíngeo).
Ele sai de casa, com sua armadura velha, seu cavalo magro - recém nomeado Rocinante, e com o seu amor por Dulcineia Del'Toboso (que na verdade é uma simples vilã que ele jamais vira, mas que imaginara sendo a mais bela e delicada senhora, como a de seus antecedentes cavaleiros). E vai parar em uma estalagem (centro do primeiro volume) que ele acreditar ser um castelo. Lá acontece diversas trapalhadas, mas mesmo assim o estalajadeiro o arma cavaleiro. Depois disso D. Quixote volta para casa, onde seus amigos e familiares tentam fazê-lo recobrar a sanidade. A primeira  atitude é fazer uma limpeza na biblioteca de D. Quixote, assim queimam grande parte dos livros de cavalaria ali presente. Apesar disso alguns se salvam, isso porque Cervantes ao escrever o seu romance não criticava as novelas de cavalaria em si, mas os seus exemplares decadentes!
Contudo ocorre um terceira saída, em que D. Quixote leva consigo o seu escudeiro Sancho Pança, um homem analfabeto e pouco sensato, pois apesar de não ser louco participa ativamente das loucuras de seu amo. Os dois passam por diversas aventuras sendo que na grande maioria acabam machucados ou fazendo o mal. Por exemplo, D. Quixote sai da estalagem sem pagar pois não havia nada disso nos livros que lera, e com isso Sancho é manteado (jogado para cima e para baixo sobre uma manta), o cavaleiro ataca moinhos de vento pensando que eram gigantes, ou um rebanho de ovelha crendo ser um exército inimigo, um cortejo fúnebre que não quis ser cortês e também libertou presos que mereciam ser mandados para a prisão. No geral ele se dava mal, ou agia para o mal inconscientemente. E sempre que não podia explicar alguma coisa colocava a culpa em magos inimigos seus. Sancho que não acreditava em magos, mas também não conseguia ver uma explicação razoável acaba aceitando os encantamentos.
O primeiro volume é recheado de histórias paralelas em que os dois protagonistas são apenas expectadores (momentos em que D. Quixote recobra a sanidade já que não se trata de sua ideia fixa de cavalaria andante). Dentre elas estão os amores entre Dorotea e D. Fernando, e Cardenio e Luscinda - uma grande histórian de amor com vários desencontros e desentendimentos que irão se resolver; também há o caso da pastora Marcela, e o da moura e o cativo. E por fim um conto, completamente independente do texto, que é a novela do Curioso Impertinente, que conta a história de dois amigos, em que um era casado com uma bela jovem mas decide lhe testar a fidelidade, acabando de uma forma muito trágica.
O primeiro volume acaba com D. Quixote sendo levado para casa enjaulado pelo padre e o barbeiro de sua aldeia. Logo depois o cavaleiro cai doente, mas promete a Sancho que eles ainda vão voltar a sair, e dessa vez iriam para as justas de Saragoça. Com isso Cervantes prometia um segundo volume, que demorou dez anos para ser escrito. O que deixou espaço para um livro apócrifo escrito por um autor cujo pseudônimo é Avellaneda, um autor que até hoje causa intriga, mas que com certeza não gostava de Cervantes. O livro apócrifo em si não é ruim, apesar de não trazer toda a originalidade do verdadeiro. Mas seu principal valor se deu através do próprio Cervantes que o incluiu em seu segundo volume, para critica-lo e mostrar sua falsidade - chega mesmo a incluir um personagem de Avellaneda no final do seu livro.
Não há dúvidas de que o segundo volume é o mais engenhoso, apesar de a comicidade ser mais sombria. Nele o autor e o narrador brincam constantemente com o leitor, coloca capítulos que ele mesmo julga apócrifo, apesar de apresentar consequências para o desenrolar do livro. Além de fazer com que os personagens já tenham lido a primeira parte e já conheçam as suas histórias e loucuras, e por isso estão aptos a criar brincadeiras (muitas vezes violentas) para rirem dele.
D. Quixote e Sancho saem uma terceira vez de casa e seguem caminho para as justas em Saragoça. Encontrando diversas aventuras pelo caminho. Como a visita que tensiona fazer a sua senhora Dulcineia, que ele não pode encontrar por jamais tê-la visto e encarrega Sancho, que dissera tê-la visto no primeiro volume por ordem de seu senhor, Sancho que não sabe tão pouco quem ela é, escolhe uma vilã qualquer muito rustica e diz ser a Dulcineia encantada e por isso que D. Quixote não consegue ver-lhe a beleza. Também encontram o cavaleiro do verde Gabão que não consegue decidir quanto a sua loucura e o leva para casa; aventuram-se na gruta de Montesinos; ajudam na solução de um casamento sem amor; e hospedam-se no castelo de um duque.
Essa é a parte que toma grande parte desse volume. Os duques já haviam lido a primeira parte e como queriam divertir-se com os disparates de D. Quixote decidem tornar a sua casa em um imenso teatro, tudo que ali acontece é para burlar com os dois. D. Quixote montam em um cavalo de madeira que eles dizem que voou até um reino encantado onde D. Quixote vendado teria que destruir um gigante; depois montam um cortejo em que Merlim diz que para que Dulcineia se desencante é preciso que Sancho se dê mais de 3000 açoitadas, as quais D. Quixote lhe cobra até o final; e Sancho ganha seu governo de uma insula, onde é tão judiado que prefere voltar a ser escudeiro.
Depois dessa encenação D. Quixote sai de lá agradecido e segue seu caminho para Saragoça, porém encontra dois cavaleiros que leram o livro apócrifo, e para contrariar o que nele tava escrito D. Quixote decidi desviar o seu caminho e segue para Barcelona. Acontece outras tantas aventuras no caminho como na cidade (mas como eu ainda tenho uma prova hoje, vou pular para o final). Lá D. Quixote encontra o cavaleiro da Branca Lua que o desafia a um duelo, em que quem perdesse deveria fazer a vontade do outro. Esse cavaleiro era o bacharel Sanson Carrasco, da sua aldeia, que decidira que a melhor forma curar D. Quixote era entrando em sua loucura e pela segunda vez estava tentando derrotá-lo para forçá-lo a voltar para casa e ficar lá por um ano. Dessa vez Carrasco sai vitorioso, e D. Quixote deve voltar para casa. A partir disso o livro se acelera para o fim, por um tempo D. Quixote planeja comprar umas ovelhas e sair com os seus amigos para ser pastor, mas ao chegar em casa ele adoece, e quando a febre passar ele está curado também de sua loucura, percebe o quão tolo fora em acreditar naquela literatura, e morre pouco tempo depois.
O livro é sensacional de uma criatividade sem fim! Apesar de todo o conhecimento prévio que o leitor pode ter do romance devido sua enorme popularidade, não perde-se nada de seu valor. É um livro que eu diria facilmente que TODOS devem ler, reler já não sei.. é um tanto grande, eu demorei um semestre inteiro para ler, mas já sinto saudades. Acho também que não deve ser uma leitura infantil, devemos fazê-la depois de grandes, pois infelizmente a maior parte das pessoas não têm o costume de reler livros, e quando jovens não somos capazes de abarcar a grandeza desse livro!