O título traz uma das minhas palavras preferidas, risível. No entanto, eu não achei lá tão risível assim. Na verdade eu fiquei meio triste, vazia, insatisfeita, ou para utilizar uma palavra do posfácio, amargurada.
O livro é composto por 7 contos, sendo que apenas dois têm relação entre si, que não são necessariamente histórias de amor, mas o amor está ali de alguma forma.
Em Ninguém vai rir, um professor universitário recebe uma carta em que o remetente lhe pede para que leia sua pesquisa e dê seu parecer a uma revista, para que ele possa ser publicado. Segundo a carta, a única forma do texto ser publicado é com a aprovação do professor, esse após ler o trabalho e chegar a conclusão de que era muito ruim, decide não dar seu parecer, mas ao mesmo tempo não avisar o remetente disso. O remetente é um homem muito insistente, que tenta de todas as formas chegar ao professor causando grande incomodo ao professor, que toda vez que tentava escapar sem dar uma explicação direta, piorava ainda mais a sua situação. A trama fica entre o cômico e o angustiante, pra mim, mais o segundo.
Já em O pomo de ouro do eterno desejo, dois amigos, um muito bem casado e outro recém-divorciado vivem várias aventuras amorosas. O primeiro por sempre ter sido o conquistador precisa exercer ainda seu poder, abordando várias mulheres na rua, marcando encontros ou simplesmente colocando-as em listas de possíveis conquistas, sem chegar mais longe; o segundo parece seguir o amigo, aceitando seus movimentos e entrando no jogo, e mesmo podendo ficar com as mulheres ele também acaba sozinho, tendo mesmo frustrado uma grande chance deliberadamente.
O terceiro foi um dos meus favoritos. Em O jogo da carona um casal apaixonado sai de férias, e em uma parada começam a fazer um jogo, em que a moça fingindo não conhecer o namorado pede-lhe carona, e começa agir como uma mulher atirada e provocante, sendo que aquilo que ele mais gostava nela era sua inocência e pudicícia . Ele por sua vez age como sua namorada ciumenta acredita que ele agia antes de conhecê-la, e de fato agia. Com o transcorrer da viagem os dois passam a odiar o jogo, mas não podem parar... e mais uma vez você não ri, ou ri de algumas coisas, mas no geral você se sente preso junto com eles ao jogo e quer gritar para que eles parem.
O próximo é O simpósio que para começar traz uma estrutura diferente dos demais, ele é dividido em atos, assim ao lê-lo é impossível não formar as imagens na cabeça, as disposições dos móveis e todo o resto, forma-se um teatro, e os personagens atuam, é como se eles fossem tipos e agissem como é esperado (muito interessante). A história se passa à noite, em uma sala dos plantonistas de um hospital. Os personagens são: uma enfermeira feia que quer chamar a atenção dos homens (não consegui decidir de qual ela gosta, um médico de meia idade garanhão - doutor Havel, um médico residente, o chefe dos médicos, e uma médica que é sua amante. A enfermeira quer a atenção de Havel e do residente, Havel menospreza a enfermeira, o residente tem princípios, mas quer seduzir a médica, o médico só quer colocar mais lenha na fogueira, e a médica... Tudo isso culmina na tentativa de suicídio ou simples acidente com um forno a gás ligado. Esse talvez seja o mais risível dos contos.
O conto seguinte é Que os velhos mortos cedam lugar aos velhos mortos, eu sinceramente não encontrei nada de engraçado nesse conto, mas cada um tem o seu senso de humor. O conto narra a história do reencontro de dois antigos amantes, que agora estão velhos. Ela está na cidade para resolver assuntos do seu falecido esposo cuja lápide fora retirada do cemitério para dar lugar aos novos mortos, e passeando na rua para passar o tempo até o próximo trem ela encontra um antigo amante, de uma noite só, que agora reside na cidade e tem pensamentos suicidas por causa da sua calvície (tá bom eu consigo ver o ridículo agora, colocando em palavras), que mal a reconhece devido ao seu envelhecimento. Esse encontro na rua vira um convite para beber um café em casa, que vira uma conversa sobre a vida, que vira uma memória do passado (ele a idealizara, e isso para ela tem um encanto, por ter permanecido eternamente jovem na memória de alguém) e por fim vira um flerte.
O penúltimo conto chama-se O dr. Havel vinte anos depois. Isso, o mesmo Havel garanhão de antes, agora ele está velho e casado com uma jovem atriz belíssima, e tem que ir para umas termas para se curar de alguma doença, chegando lá ele percebe que já não tem mais o seu encanto, a única pessoa que lhe dá atenção é um jovem jornalista que quer poder ter o mesmo sucesso que ele já tivera no amor. Havel, sentindo-se muito sozinho pede para que sua esposa o visite. A visita além de muito boa traz consigo a atenção sobre o doutor, que passa a fazer novas conquistas por causa da fama da mulher. Sério, o que há de risível nisso? Coitada da esposa, coitado do burro do jornalista... acho que não estou numa fase de rir das desventuras alheias.
E por fim o conto Eduardo e Deus, que gira em torno de um professor de uma cidadezinha que para conseguir levar a namorada para a cama, decide fingir ser devoto a Deus, até mais devoto do que ela, o que lhe causa problemas na escola, pois naquela época não era bom ser religioso na Boêmia, era anti-revolucionário. No entanto, ao invés de informar que estava mentindo quanto a sua fé ele acaba insistindo nela, o que faz com que ele se envolva com a diretora que quer acabar com sua fé e também com que sua namorada se entregue para ele, e depois de muitos anos o que resta é que ele ainda vai de vez em quando na igreja para pensar em Deus, a namorada perde seu valor ao se entregar e deixar sua fé de lado, invertendo-se as posições.
Opsss
Da próxima vez me lembrar de resumir um livro só depois de lê-lo por inteiro, não que eu não tivesse terminado os contos, mas ainda estava no meio do posfácio, e lá pro finalzinho dele há uma declaração do Kundera que explica o porquê de eu não ter achado graça: "Risíveis Amores. Não se deve entender esse título no sentido: divertidas histórias de amor. A ideia do amor está sempre ligada à seriedade. Ora, risível amor é a categoria do amor desprovido de seriedade."
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