Esse romance é meio estranho. Não esperava ler o que li quando fiquei sabendo que teria que ler esse livro. Ele se passa na América do Norte, no que o autor chama de deserto, mas com a leitura imaginamos as florestas tropicais tão descritas pelos Românticos brasileiros. Na verdade não tem como ler sem pensar em Iracema, se você já leu Iracema é claro.
O romance tem um prólogo que longamente descreve a paisagem, dá nomes indígenas aos rios americanos, e então fala de um velho indígena que tivera uma longa vida cheia de histórias e um europeu que chegando na América quer fazer parte de uma tribo, viver como eles e aprender seus costumes, ele é aceito, e lá conhece esse velho cego que se chama Chactás, a quem pede que lhe conte a sua história.
O romance começa então com a narrativa de Chactás, sobre as suas aventuras. Que estando a sua tribo em guerra ele foi capturado, e que por muito pouco não fora enviado ao México onde seria escravo, ele fora salvo por Lopes um espanhol que queria civilizá-lo. Mas Chactás por mais que fosse agradecido e amasse esse homem não podia ficar lá preso, precisava voltar para sua terra. Porém, logo que partiu ele foi capturado por uma tribo rival, que o aprisionou e decidiu queimá-lo em um lugar específico para onde se dirigiam. O caminho é longo, e nas noites ele ficava preso em volta de uma fogueira com um guarda, até que um dia surgiu uma jovem branca que ele tomou pela Virgem dos católicos, e por ela se enamorou. Ela era Atalá a filha do chefe guerreiro, que também se apaixonou por ele.
Um dado dia ela convenceu o guarda a deixá-la tomando conta do jovem Chactás, e no primeiro momento o soltou e o mandou fugir. Ele se recusou a ir sem ela. E com isso a caminhada continuou, chegaram a um povoado em que ela mais uma vez o soltou e juntos caminharam, mas antes que alguma decisão fosse tomada o pai de Atalá os descobre e passam a prender Chactás com maior rigor. Chega enfim a hora de queimá-lo, porém tudo é postergado por diversos motivos. Então Atalá encontra uma forma de libertar Chactás, e está decidida a fugir com ele, pois não aceitaria que ele morresse por ela.
Eles fogem, andando pelo tal deserto (que mais me parece o paraíso) sem nada de mal fazerem. Atalá sofre visivelmente mas nada diz a Chactás. Eles prosseguem a sua viagem (não sei bem para onde), até que uma pesada tempestade cai, eles se refugiam embaixo de uma árvore, e lá o clima esquenta, mas ainda assim ela continua virgem (eu acho, a hora em que isso é esclarecido no livro a minha versão digitalizada está borrada). Pois bem na hora chega um padre que sabe que há viajantes nas redondezas e quer oferecer-lhes abrigo.
Os três vão para a gruta do velho padre, onde se secam, se alimentam, e contam sua história. O padre diz que se Chactás se converter ao cristianismo ele poderia casá-los (esqueci de dizer que Atalá já era cristã), e que eles poderiam viver na comunidade que ele criara, com selvagens convertidos. No dia seguinte de manhã, Atalá continua dormindo, mas Chactás desce com o padre para a tal aldeia, onde o selvagem vê toda a obra do cristianismo e da civilização e acredita que será muito feliz ali. Porém quando eles voltam à gruta do padre, Atalá está agonizando, a beira da morte e precisa contar a sua história para Chactás, para que ele entenda a tristeza dela, que não era causada por ele.
Ela ia morrer porque o céu a estava punindo. Ela não era filha do chefe guerreiro que aprisionara Chactás, mas sim de um espanhol de nome Lopes (é, o mesmo!), mas que sua mãe fora forçada a se casar já gravida, e que devido a complicações do nascimento de Atalá ela prometera a Deus e a Virgem que sua filha seria eternamente virgem, e quando ela morreu fez sua filha lhe prometer isso. Portanto ela jamais poderia ser mulher de Chactás. O padre então a acalma, e lhe oferece uma opção, em que o bispo poderia retirar os votos feitos por Atalá, mas essa conta o que aconteceu no dia da tempestade, o que não tem volta. Depois de mais alguns dias agonizando ela morre, porém antes faz com que o selvagem lhe prometa antes de morrer converter-se ao cristianismo pois assim eles teriam a eternidade juntos.
Depois do velório, enterros e honrarias Chactás volta para a sua mãe e sua terra. Sem ter se convertido ao cristianismo até o momento em que contava a sua história para o europeu.
Enfim vem o epílogo, em que um outro narrador conta que soube dessa história por outras bocas, mas que a considera confiável, por mais que jamais tenha encontrado o padre. Pois um dia estando ele também no deserto viu uma mãe selvagem que fazia os rituais da morte de seu filho recém-nascido, comovido esse viajante a ajuda, e depois com a chegada do pai pergunta se pode ir com eles. Quando param de caminhar ele lhes pergunta a sua história, eles são do mesmo povo que Chactás, e estão fugindo pois com a colonização eles foram expulsos de sua terra. Então o viajante pergunta se conhecem a história de Chactás, eles informam que são descendentes do europeu que fora por ele adotado, e terminam a história. O padre fora cruelmente assassinado na sua aldeia. E Chactás foi buscar o seu corpo e o de Atalá quando ficou sabendo, lá chegando ele presenciou um certo tipo de divindade, e pelo que eu entendi se converteu ao cristianismo, para assim poder se juntar a Atalá.
Para mim esse romance não tem tanto de paixões, como os demais que eu li para a matéria. Sim eles são apaixonados. Chactás está disposto a morrer do que ficar sem ela. Atalá prefere fugir, quebrar os votos feitos a sua mãe no leito de morte do que vê-lo morrer. Mas eles são tão puros. Não há nada de errado em eles se apaixonarem. Parece mais uma defesa do catolicismo, Chactás para ser melhor tinha que se converter. E também do uso e entendimento da religião. O padre é o melhor personagem de todo o romance.