terça-feira, 21 de maio de 2013

Ilusões Perdidas - Honoré de Balzac

Mais um dos livros clássicos da literatura francesa, ou ao menos, mais um dos autores clássicos da literatura francesa. Sempre tive a intenção de ler Balzac, em especial O pai Goriot, que entrou para a minha lista de livros de ler antes de morrer, mas até então apenas lera um conto, nada sabia sobre o autor a não ser que ele havia produzido muito, e que portanto colocar na minha lista a sua obra completa pareceria loucura. Dadas as aulas descobri que Balzac tinha um objetivo muito louco e muito nobre ele queria escrever uma grande obra compostas por obras menores (tipo Ilusões perdidas com apenas umas 700 páginas... de boa) chamada Comédia Humana, separada em outros subtítulos onde não só seus romances se encaixariam, e objetivo dessa comédia seria retratar os costumes da França do século XIX, em todos os seus mínimos detalhes, pois deixar de falar de um aspecto seria favorecer outros. Outra característica interessante dessa grande obra é que ela possui o seu próprio universo, os personagens se repetem em diversos livros, pois os homens importantes participam de mais de um fato notável. Ilusões Perdidas é o último romance da parte destinada a descrever a vida na província, e depois dessa começa a vida em Paris, no qual Lucien volta a aparecer, Balzac deixa um fim tão incerto para o seu protagonista que a vontade de ler o próximo, que não necessariamente deve ser lido na ordem, é grande.
O livro é dividido em três partes publicadas em diferentes anos, sendo a segunda muito maior e muito melhor do que as outras duas, e em nenhuma delas há capítulos, o que dificulta muito a leitura. A primeira é denominada Os dois poetas nela conta a história de dois amigos de Angoulême, um é o filho do dono de uma tipografia, que o educa para assumir o seu posto, mas é tão avarento que ao deixar a tipografia para o seu filho, o coloca em uma situação financeira terrível, mas esse sem o tino comercial, e com alma de poeta, ama tanto seu amigo que quer apenas ser seu irmão, casando-se com a irmã deste, a bela Ève, e ajudando-o, apoiando-o - seu nome é David Séchard. O outro é de fato um poeta, Lucien Chardon, o filho de um boticário que casara-se com uma mulher de descendência nobre por amor, e não deixara nada aos filhos.
Lucien por seu talento e seu gênio consegue entrar na alta sociedade de Angoulême, e cair nos amores de sua rainha, a senhora de Bargeton. Lucien consegue lá muitos inimigos pelo simples fato de que as outras mulheres da sociedade tinham inveja de que Louise tivesse um belo poeta que lhe escrevia belas poesias, e assim apesar de nunca ter sido de fato amante da senhora de Bargeton, Lucien vê-se alvo de intrigas, Louise tenta tudo resolver - seu marido se bate em combate com o primeiro homem que tem coragem de falar, apesar de ter sido tudo arquitetado pelo conde du Chatelet que era apaixonado por ela e não aceitava ser trocado por um homem qualquer. Nesse meio tempo, depois do namoro mais curto e enfadonho do universo, David e Ève ficam noivos, mas Lucien não fica para o casamento, Louise propõe que eles fujam para Paris, onde ela tinha uma prima marquesa que o tornaria um grande poeta. E é com essa fuga que termina o primeiro volume.
O segundo, chamado Um grande homem de província em Paris narra a vida de Lucien em Paris, que de fato é o lugar onde ele perde todas as suas ilusões. Ele que acreditava que então se tornaria o amante da senhora de Bargeton logo na chega vê-se afastado dela pois não poderiam causar uma má impressão (tudo arquitetado por du Chatelet), e então vê-se por ela descartado pois sua prima descobre que ele é um simples poeta de província e não um homem nobre como fazia os outros acreditarem ao usar o nome da sua mãe. Assim, em pouquíssimo tempo Lucien liquida com todo o dinheiro que David arduamente emprestara. Ele precisa mudar-se para um bairro pior, comer em restaurantes piores, mas sempre bem trajado, pois fora com isso que gastara grande parte do dinheiro. Dedica-se então para a sua poesia, pesquisa, e escreve todo o tempo, conhece Daniel d'Arthez um homem que possui todas as virtudes e também é escritor, e o introduz ao Cenáculo, um grupo de amigos, amigos incondicionais, e mesmo que todos passem necessidade dividem e dão tudo com prazer, todos buscam um ideal e se respeitam. Tudo estaria bem, mas Lucien começa a ter necessidade de dinheiro e como não consegue vender o seu livro de poesia As margaridas e nem o seu romance ao estilo de Walter Scott O arqueiro de Carlos IX ele decide-se por entrar para o jornalismo, por mais que seus amigos o avisem de toda a hipocrisia desse mundo.
Porém o nosso protagonista não resiste, quando conhece Lousteau, que o adverte quanto ao difícil caminho e a fragilidade das amizades, ele se introduz nesse mundo maravilhosamente, pois ele tem o gênio e é belo, logo está ganhando dinheiro que dissipa em bebida e jogos, vivendo cada dia, sem pensar em guardar ou pagar toda a sua divida. Logo de cara a mais bela das atrizes se apaixona profundamente por ele, ela larga seu amante que a bancava e ele vai morar com ela. Lucien vende suas Margaridas (que nunca são publicadas), escreve ótimos artigos para o jornal liberal. Mas aos poucos vai se introduzindo na nobreza e quer conseguir seu título, quer fazer parte daquela sociedade, e não percebe que está cavando sua própria cova, acredita nas promessas da senhora de Bargeton, que ele fizera com que seus amigos difamassem na imprensa, e aceita trocar de opinião política (Balzac deixa claro que então tudo já era comerciável). Nesse momento tudo começa a desandar, Coralie, a atriz, adoece e perde seus papéis pois os seus antigos amigos e novos inimigos estão falando mal do seu trabalho nos jornais, e também criticam o trabalho de Lucien e a sua pessoa... Ele perde tudo, Coralie morre, ele pensa no suicídio mas acaba voltando para casa, ironicamente escondido na carruagem da senhora de Bargeton, agora a senhora du Chatelet, e mulher do novo prefeito.
É ai que começa a terceira e última parte, Os sofrimentos do inventor, que conta em flash back o que estava acontecendo em Angoulême nos 18 meses que Lucien passou em Paris. Tudo ia muito mal para o jovem casal, que tudo dera para que Lucien fosse bem sucedido, ficando com quase nada, e ainda tendo que sofrer um processo judicial cobrando as dividas que Lucien fizera ao falsificar a assinatura de David. E tudo por interesse econômico dos concorrentes de David, os irmãos Cointet que possuíam uma tipografia muito mais próspera. Grande parte desse último volume é sobre o processo, que enfim acaba por condenar David a prisão, esse como era o costume foge e se esconde na casa de uma amiga de Ève, e lá continua a pesquisar para a sua invenção: produzir um papel melhor e muito mais barato. Os Cointet sabiam disso e queriam uma sociedade em que eles acabassem por ficar com todo o lucro, o senhor Séchard pai, então vinhateiro e com dinheiro suficiente para ajudar o filho se recusa a ajudar, e até mesmo em fazer sociedade com ele. É então que Lucien retorna para a casa da irmã e percebe que apesar de sua bondade ela já não confia nele, e não lhe conta o esconderijo de David e nem quer que ele ajude.
Apesar de desgraça em que Lucien volto de Paris, Petit-Claud um procurador contratado pelos Cointet para destruir David, sob a promessa de casá-lo bem, e que com isso teria que ser o procurador de David, mas apenas conduzir tudo para os planos dos irmãos, faz de tudo para que as pessoas recebam Lucien como um herói. E mais uma vez o poeta é recebido na alta sociedade de Angoulême, dessa vez ele se arma, com belas roupas, para representar, pois ele tem por objetivo conseguir dinheiro para salvar o seu cunhado. E até parece que vai dar tudo certo, contudo David sai do esconderijo muito cedo por causa de uma carta falsifica pelo grupo dos irmão Cointet, e é preso, Lucien sente-se culpado, escreve uma carta de suicídio e se encaminha para um lago onde pretende se afogar, e no caminho conhece um padre espanhol, que tem umas opiniões sobre o poder e a honra nada religiosos, que lhe propõe ir com ele para Paris, ser dele, ser seu pupilo e fazer apenas o que ele quiser em troca de dinheiro para salvar David, ele assim aceita e manda o dinheiro para irmã (e o resto da história é contado em Esplendores e misérias das cortesãs).
Contudo o dinheiro não chega antes de Petit-Claud que leva a proposta dos irmãos Cointet, em que David receberia dinheiro para pagar a dívida e mais um pouco para viver, faria sociedade com eles, mas a patente ficaria no nome de um dos irmãos, e ele tinha um tempo limite para atingir seu objetivo e então o contrato seria anulado e ele teria que devolver parte do dinheiro dado. Eles tudo aceitam, e pouco tempo depois chega o dinheiro de Lucien, e em seguida compram a tipografia de David, eles vivem assim por um tempo, até que os Cointet fazem David acreditar que ele não conseguiu e ele tem que desistir da sua invenção e morar no campo feliz com a sua mulher e seus filhos, e além disso seu pai morre e deixa-lhe uma boa herança.

É um livro tão comprido como esse resumo. Ás vezes muito chato, mas mesmo sendo uma tradução é uma leitura que flui, e flui muito. Não consigo me decidir se gostei ou não do livro. Quero dizer o título já conduzia a um final não tão feliz, ilusões perdidas, sério eu terminei desacreditando no mundo e pensando que a única solução para não ser corrompida é me mudar para o campo e não pensar em dinheiro, o que eu não quero. Que o mundo do jornal e da edição de livro é cheia de pessoas com interesse, e não o lugar em que eu sempre quis trabalhar. Afinal como uma amiga bem notou, era um livro com uma capa muito escura, a única coisa que animava eram os post-it laranjas que eu coloquei para lembrar as partes importantes (para a prova). Mas, ainda lerei O pai Goriot....

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