sexta-feira, 12 de abril de 2013

Notre-Dame de Paris (1482) - Victor Hugo

Esse romance está muito longe do clássico da Disney, que na melhor das hipóteses se baseou na história do livro de Hugo. Para além das gárgulas falantes, o romance é muito mais profundo, triste e real. Apesar de saber a história verdadeira, aquela imaginada por Hugo, ainda prefiro o final feliz na Disney! É isso... pela primeira vez não acho que as pessoas de um drama devem morrer...


O romance de Victor Hugo começa no seu primeiro prefácio, em que ele afirma que ele, o autor, bisbilhotando a catedral encontrou uma inscrição em grego que dizia fatalidade gravada à mão na parede, e é a respeito dessa palavra que ele irá escrever. Há por todo o prefácio e grande parte do livro uma defesa da arquitetura gótica da idade média, que os homens do século XIX e os seus precedentes estavam destruindo. Na verdade Victor Hugo em uma época em que não havia internet e muito menos o Google Earth, teve um trabalho incrível em descrever não só a arquitetura de séculos passados, em especial da catedral Notre-Dame que configura-se nesse romance como um personagem, mas também a cidade de Paris, suas ruas, portões, pontes e becos, tudo com uma riqueza de detalhes, que pode muitas vezes cansar um leitor despreparado, mas que é capaz de nos transportar para uma época muito distante da nossa e também da de seu autor.
O livro é dividido em livros, o primeiro deles ele começa da seguinte maneira: "Hoje faz 348 anos, seis meses e dezenove dias  que os parisienses acordaram ao carrilhão de todos os sinos  nos três domínios: da Citè, da Universidade e da Cidade". Hugo nos dá o dia exato em que ele começa a escrever (25/07/1830), pois era 06 de janeiro de 1482, dia de reis, e Paris comemorava. Havia um mistério tentando ser interpretado. Quem o escrevera? Pierre Gringoire, um filosofo. Quem assistia? O povo, em meio a ele, Jehan Frollo, um jovem estudante baderneiro, e Clopin Trouillefou, um mendigo, o rei da Corte dos Milagres. Porém a representação não ia bem, a cada segundo era interrompida, com a chegada, enfim dos embaixadores flamengos, entre eles um burguês de nome Coppelone, que propôs, como era costume deles, que se elege-se o papa dos loucos, que seria aquele que fizesse a careta mais feia. Quasímodo, o corcunda, coxo, surdo sineiro de Notre-Dame é que ganha, e ao mesmo tempo do lado de fora a bela cigana La Esmeralda dança e atraí muitos espectadores.
Então, no segundo livro narra-se o que aconteceu com o infeliz do Gringoire, que viu sua peça ser deixada de lado, e a possibilidade de não receber por ela, e como já não tinha dinheiro para comer, ou mesmo pagar um quarto, vaga pelas ruas, tentando fugir da festa que lhe arruinou o dia. Porém, não consegue, e quando vê La Esmeralda fica encantado.  Quando a multidão se dispersa ele a segue, nas ruas geladas e escuras de Paris, contudo ela, que vai mais a frente é interceptada por Quasímodo, e seu protetor o arquidiácono de Josas, dom Claude Frollo, que tentavam raptá-la. Gringoire não consegue ajudá-la, caindo desmaiado na sarjeta. Que a salva é o capitão dos arqueiros de Paris, Phoebus de Châteaupers. Ela foge, toda maravilhada com aquele homem forte capaz de defendê-la, e Quasímodo preso. Gringoire acorda muito depois em uma situação calamitosa, e continua andando em busca de um fogo para se aquecer, a chega à Corte dos Milagres, onde o levam a presença do rei, pois ele não sendo um vagabundo, não poderia estar ali, e deveria morrer enforcado, ele tem algumas chances de se defender, mas é La Esmeralda quem o salva, pois como costume daqueles ciganos, se alguma mulher quisesse desposá-lo ele poderia ficar, e foi o que ela fez, quebraram um vaso para delimitar por quanto tempo ficariam casados (4 anos), e pronto ele estava salvo. Ela não queria de fato estar casado com ele. E deixou isso bem claro, e ele logo se acostumou com isso, e seu amor transferiu-se para a bela cabritinha Djali.
O terceiro livro é o mais enfadonho de todos, nele Victor Hugo se dedica, com maestria e cuidado, a descrever a catedral e cidade, detalhe por detalhe. E o leitor que não vê, e em poucos casos imagina, pois já esteve na atual Paris, se cansa, e pode muitas vezes desistir ai, e não voltar ao texto! Por favor não faça isso! É preferível que você pule essas paginas, perca isso mas ainda assim chegue ao final.
Então começa o quarto livro, em que conta como Claude Frollo tomou Quasímodo por seu protegido, quando 16 anos antes o bebê deformado foi deixado em Notre-Dame, sobre uma bancada destinada às crianças abandonadas, ninguém o queria, todos se afastavam dele com horror, e o Claude Frollo o quis. E ao invés de tomarem isso por caridade, que o era, principalmente pensando em seu irmão mais novo, que aprenderia com isso, as senhoras apenas viram mais uma prova de que ele era feiticeiro, isso surgira com a sua dedicação ao estudos, e seu caráter taciturno, e sim uma certa tendência para a alquimia. O padre era impopular e tornou-se ainda mais impopular com seu filho adotivo, que mais parecia um escravo ou um fiel cachorro, era lhe obediente e o venerava. O quinto livro continua a história de Claude Frollo e também uma discussão sobre arquitetura e livros.
O sexto livro foi o meu favorito, nele muita coisa é explicada. Inicia-se com o julgamento de Quasímodo por um homem também surdo, o que gera riso por parte do público e uma pena pesada para o corcunda, que o juiz acreditava estar zombando dele. Quasímodo é condenado a uma certa quantidade de chicotadas em publico. Esse ao invés de sentir piedade daquele homem já deformado sangrando e implorando por um pouco de água, ri e joga a pedras nele, a única pessoa a se comover é La Esmeralda que passa por todos e lhe dá água, nem mesmo Claude Frollo o ajuda. Também conta-se aqui a história do passado desses dois, mas de maneira indireta. É a história de uma prostituta que já um tanto velha teve uma linda filhinha que ela amava e vestia com as mais belas roupas bordadas por ela, em especial o seu pézinho e seu sapatinho. E que quando ela tinha apenas quatro meses um bando de ciganos se aproximou de sua cidade e a mãe curiosa para saber o futuro de sua filha, a levou lá, e na mesma tarde, ao deixá-la um pouco sozinha para ir à vizinha contar as previsões, a criança foi raptada, e em seu lugar deixaram uma criança deformada aos berros. Não sabia-se ao certo o que fora feito delas, que a menininha tinha sido comida era o que se dizia, e o menino fora deixado para adoção. Logo após contar essa história uma senhora com suas duas amigas passa pelo Buraco dos Ratos lugar de penitência perto da Grevè onde estava o cadafalso em que as pessoas eram chicoteadas e enforcadas. E lá a narradora reconhece como penitente essa prostituta desesperada e louca, que está a 15 anos sofrendo, ela a reconhece pelo sapatinho.
Então, no sétimo livro, o tempo passa, La Esmeralda e seu marido fazem um show em frente a Notre-Dame, Phoebus está na casa de sua noiva, pela qual ele não se sente atraído. Ela em meio a várias outras jovens manda chamar a cigana, que ela avistou de sua varanda para entretê-las. Chegando lá a boêmia fica encabulada ao encontrar o seu amor, e a noiva enciumada por ver quão linda ela é, e a atração que o jovem capitão sente por ela, e principalmente pelo truque que La Esmeralda havia ensinado a Djali, escrever em meio a um alfabeto de blocos o nome Phoebus. Ao mesmo tempo que isso acontece Gringoire é visto pelo arquidiácono, que o inquere sobre seu conhecimento com a cigana. Demonstrando ai todo o seu ciúme. Depois mostra como a admiração de Quasímodo pela cigana interfere na catedral e seus sinos, para então voltar aos amores de Claude Frollo por La Esmeralda, que lhe consome todo e qualquer pensamento, ao ponto de seguir seu irmão, que vai beber com o capitão, esperar do lado de fora até que os dois saiam, pois entreouviu uma conversa deles que Phoebus afirmava que naquela noite se encontraria com La Esmeralda. O padre ataca o capitão quando este está sozinho, mas acaba dando-lhe dinheiro para um quarto com a cigana, desde que ele pudesse ver, assim ele é introduzido no quarto. Em que mais tarde a La Esmeralda tenta se defender dele, mas acaba sedendo por amá-lo e preferir ser a outra a não ser nada. Porém, nada se concretiza, Claude Frollo apunhá-la o capitão e foge, La Esmeralda cai desmaiada, e é presa por feitiçaria e assassinato.
Grande parte do oitavo livro é dedicado ao julgamento da cigana, que tem tudo contra ela, pois uma cabra é um animal que representa o diabo, a figura do padre, que entrara de negro no quarto teria sido conjurado por ela, e assim por diante. Ela nega tudo e só quer saber de seu amado que dizem estar morto, então a levam para tortura, onde ela acaba confessando tudo e é condenada a forca. Fica contudo um tempo presa, e pouco antes do dia fatal Claude Frollo entra na sua cela e lhe declara seu amor, e diz que tem como ajudá-la, ela o reconhece e nega-se a ele, prefere morrer. Antes de ser enforcada, La Esmeralda tem que ir diante da catedral e pedir perdão, lá Claude Frollo lhe dá mais uma chance de salvação caso ela o aceite, mais uma vez ela nega, então quando ela está sendo levada para a carroça que a conduzirá a forca ela avista Phoebus na sacada de sua noiva, pois ele não havia morrido, ela desmaia, ele finge que não vê. Então Quasímodo que vira tudo do alto da igreja desse por uma corda a pega nos braços e a leva para dentro gritando "Asilo", assim enquanto ela permanecesse lá nada poderia lhe acontecer.
O nono livro conta o tempo que La Esmeralda passa na Notre-Dame de Paris, do cuidado que Quasímodo tinha com ela, e a repulsa que ela não conseguia deixar de sentir, o amor que ele sentia, e se sentia mau por expressar, pois o via sempre enxotado por ela, e mais uma tentativa do arquidiácono de possuir a cigana, e a proteção dada pelo corcunda, que apesar de não atacar seu mestre não o deixa fazer o que quer.
No penúltimo livro, o asilo de La Esmeralda está para ser quebrado, e dom Claude Frollo exige de Gringoire que ele dê a sua vida pela dela, já que ela o salvara antes, esse no entanto encontra uma outra solução. Convence todo o povo da Corte dos Milagres (que tem como novo integrante Jehan Frollo, que está exaltado com tudo aquilo) a fazer uma revolução, pilhar Notre-Dame e tirar a cigana de lá. Assim 6 mil homens e mulheres se dirigem na calada da noite para a catedral e tentam arrombá-la, enquanto sozinho Quasímodo resiste acreditando que o povo queria matar a feiticeira. Muitos morrem, entre eles Jehan. Então o livro pula para a Bastilha onde o rei Luís XI tinha um quarto e estava em reunião sobre seus gastos, quando é avisado que a cidade está sendo atacada,de início ele fica feliz, pois acredita que está atacando os magistrados, que eram outro poder da cidade (não podemos nos esquecer que a história se passa na baixa Idade Média, e o rei não tinha poder total), mas então é informado que estão atacando a igreja, por causa de uma ordem sua contra a cigana, o que o leva a mandar ajuda. Porém, já é tarde para pegar La Esmeralda na catedral, Claude Frollo e Pierre Gringoire continuaram com seu plano (aqui começa o último livro), tiraram a cigana da igreja por um caminho que apenas o arquidiácono poderia usar, e a levaram para a Grevè onde Gringoire fugiu com a cabrita, deixando La Esmeralda com o padre que ela tanto temia, mas que ela ainda não vira quem era. Mais uma vez ele lhe dá a escolha e mais uma vez ela prefere a morte, então ele deixa ela com a penitente do Buraco dos Ratos, que odiava acima de tudo os ciganos, e aquela mais que todos, e vai atrás do exército para entregá-la. Enquanto elas estão sozinhas, elas descobrem-se mãe e filha por causa do par de sapatinho que cada uma carrega consigo. Porém já é tarde para salvá-la. A cena é de fato um tanto desesperadora e brutal. Arrancam as duas a força do buraco, a mãe morre ao bater com a cabeça no chão quando jogada, e La Esmeralda é enforcada. Essa cena é assistida do alto da catedral por Claude Frollo que sofre, e não escuta a aproximação de seu filho adotivo, que na sua ira, por saber que foi ele quem a tirou de lá, o empurra, e enquanto esse se dá conta do triste final o outro sofre em silêncio para conseguir se salvar, contudo cai e se esborracha. desde aquele dia ninguém mais viu o corcunda de Notre-Dame, até que mais tarde encontram em um lugar onde depositavam os corpos dos enforcados dois esqueletos unidos, no qual reconhecerem vestígios daquilo que La Esmeralda usava e no outro uma corcunda e nenhum osso quebrado que revelasse que aquele fora enforcado: "Quando tentaram afastar o esqueleto que ele abraçava, desfez-se em pó".

Desculpa o resumo comprido, mas o livro é enorme. Muito bom, recomendo a leitura. Apesar de ter algumas parte cansativas, e outras em que você duvidaria da veracidade, como uma mulher sobreviver 15 anos em um buraco mal tapado, sem cobertor no frio de Paris no inverno, e ainda assim quando reencontra sua filha ser capaz de arrombar a porta com uma pedra... mas acredito que para ser um bom leitor, assim como para ir bem em física, deve-se aceitar aquilo que te falam, sem tentar entender como aquilo acontece. Assim, o desenho da Disney perdeu seu encanto, outros filmes terão que ser assistidos para saber o que fizeram desse livro, e mais um foi cortado da lista de livros para ler antes de morrer!

Nenhum comentário:

Postar um comentário