Zola assim como Balzac quis fazer um grande romance composto por outros romances, mas ele foi mais sensato, ao invés de querer escrever uma história da humanidade, ele se fixou em alguns aspectos, Germinal faz parte do grande romance composto por dez volumes dos Rougon-Macquart que é a trajetória de uma família durante o segundo império francês, o de Napoleão III. Do pouco que eu li, do pouco que eu lembro ter aprendido no colegial sobre o naturalista, cheguei a conclusão de que Zola era fissurado por anotações! Esse livro teve primeiro um projeto, depois um esboço, várias anotações da pesquisa de campo, e mais de uma versão até ficar pronto - o que para mim explica a perfeição desse livro. Acho que no projeto o autor definiu a temática de seu romance: "O romance é a revolta dos assalariados, o estímulo ofertado à sociedade que subitamente cede por um instante: para resumir, a luta do capital e do trabalho. É nisso que reside a importância do livro, eu o quero predizendo o futuro, formulando a questão mais importante do século XX" (o livro é de 1885).
Com isso parece que não havia livro mais propício para ser lido agora, em meio a tanta manifestação no Brasil. Talvez essa questão não seja apenas a mais importante da França do século XX que nem havia iniciado, talvez ele estivesse predizendo um futuro eterno, uma luta que sempre existirá. Bem, a minha intenção não é falar de política, mas sim resumir um livro lido.
Um livro muito bem lido, e mais do que apreciado. Acho que desde que eu li O código Da Vinci do Dan Brown (e olha que eu li em 2005), eu não me sentia tão presa a uma leitura, tão fissurada e tensa para chegar logo no final. Me prometia para no próximo capítulo para ir comer, tomar banho, necessidades básicas, mas eu achava que mais um pouquinho não ia atrasar a minha vida. Ainda nas primeiras páginas eu já fui descobrindo o que ia acontecer, mas sem saber ao certo, querendo ver como Zola colocaria isso, engoli todas essas páginas, em meio a algumas lágrimas.
O livro começa muito poeticamente com a descrição do ambiente, e de um homem, Étienne Lantier, que caminha nessa paisagem, sem direção, arrasado, cansado, sem dinheiro e sem comida. E acaba se deparando com uma mina de carvão, a Voraz - que por todo o romance será descrita assustadoramente como um monstro que engole os seus operários. Ainda no escuro da madrugada Étienne conversa com o velho Boa-Morte cuja família trabalhava na mina desde a sua fundação, e que ele mesmo já trabalhara no seu interior, contudo devido sua saúde agora trabalhava no seu exterior, mas seu filho e seus netos ainda desciam todo dia. Étienne entra na mina a procura de emprego, e já tinha desistido quando Catherine a neta do velho, e filha do Maheu, vai atrás dele para lhe oferecer emprego, pois um dos vagoneteiros que trabalhava com seu pai tinha sumido.
Assim começa a relação de Étienne com essa família, enorme e miserável. São o pai e a mãe (que Zola se contenta em chamar apenas de o Maheu e a Maheu), o velho Boa-Morte, Zacharie o filho mais velho, Chaterine, Jeanlin (os três já trabalham na mina), Alzire que é corcuda, Lénore, Henri e a bebe Estelle (nenhum desses trabalhava, incluindo a mãe). Ou seja uma família de 10 pessoas para sobreviver com um salário escasso. Étienne ao mesmo tempo que trabalha com afinco na mina, e sente-se atraído por Catherine (que fora abusada por um dos mineiros que trabalhavam com seu pai, e acabara por aceitá-lo apesar de toda a violência desse), começa a sentir-se revoltado com a submissão dos mineiros, que aceitam as multas e o roubo das suas horas de trabalho, e o desprezo dos patrões, que ele sequer sabem quem são. E quando ele começa a se corresponder com um ativista político da Internacional (organização de trabalhadores da Europa), e trava amizade com Survain um russo niilista refugiado, e Rasseneur o taberneiro, antigo mineiro que fora demitido na última greve, por ser um dos chefes.
Logo Étienne começa a ter ideias vagas, sem um grande conhecimento ele oscila entre os pensamentos da época, em utopias de um mundo justo, em que os operários massacrariam os burgueses tomariam o poder, a mina dos mineiros. Primeiro ele convence os operários a criarem um fundo para que em caso de greve eles tivessem com o que se sustentar, depois ao poucos ele conversa com os seus camaradas, incita o desejo de justiça, e torna-se aos poucos o seu líder (coisa que rápido lhe sobe a cabeça!). Então chega a greve, e os burgueses fazem pouco caso dela, porém ela se estende o povo vai definhando de fome, as casa dos operários na aldeia já não possuem nada, tudo foi vendido para se alimentarem, também as minas sofrem com a paralisação, pois além de não produzir mais, a estrutura está definhando. Mas ninguém quer ceder. Os operários sabem que estão com a razão. Porém os burgueses possuem o capital. A greve se agrava, e quando alguns mineiros decidem voltar o trabalho, a multidão esfaimada se une para detê-los, pois apenas uma greve geral poderia atingir o resultado. A multidão cresce e começa a destruir as minas, até que a polícia tem que ser chamada. O que acaba depois de um tempo em desastre. E esse leva ao retorno do trabalho, contudo as desgraças não terminam... principalmente para a família Maheu que no final do livro está apenas com 6 membros e apenas dois em condições de trabalhar. Étienne depois de muito sofrer vai embora para Paris ainda em busca do seu sonho de um mundo melhor e justo.
Não sei o quanto deixei de falar para não contar o final, ou o quanto eu sou incapaz de resumir. Existem milhares de personagens secundários, diversas famílias mineiras que são bem descritas como os Levaques, vizinhos dos Maheu, em que o pai mineiro é o mais violento dos grevistas, sua mulher que não cuida de casa e tem um caso conhecido por todos com o seu inquilino, o filho do casal que é "amigo" de Jeanlin e com ele apronta todas, muitas vezes sendo obrigado a crueldades, apenas tendo um momento de felicidade com a filha da outra vizinha pouco antes de morrer, e aida uma filha mais velha que se casa com Zacharie de quem já tinha dois filhos. E mesmos os burgueses são retratados em três diferentes famílias, a do diretor da Voraz, com sua mulher que não o quer e tem um caso com seu sobrinho, o engenheiro Négrel, que está noivo de Cecile Grégoire, filha de uma família de burgueses que viviam de rendas das ações da mina. E eram aparentados com o dono de uma pequena mina que será engolida pela Voraz. Tudo está interligado, os capítulos se sucedem como cenas em que você está presente.
Não sou capaz de escrever a grandeza desse livro, em que as metáforas são perfeitas, os mineiros sob a terra martelando com suas picaretas prontos para emergirem do chão (germinarem) para exigir os seus direitos. Leiam e releiam!
quinta-feira, 20 de junho de 2013
sexta-feira, 7 de junho de 2013
Madame Bovary - G. Flaubert
O penúltimo dos livros que eu tenha que ler para a matéria de literatura francesa. Essa era o único que eu já havia lido, e apesar de não ser a tanto tempo, eu na verdade não me lembrava direito, sabia que ela era uma adultera como qualquer pessoa que já ouviu falar sobre esse romance. Sabia também que quando o libro foi publicado (1857) Flaubert sofreu um processo por seu romance ser inapropriado e levar leitoras ingenuas a seguir sua protagonista, porém ele foi absorvido.
Sinceramente, apesar de ser um cânone, eu não consigo encontrar o que ele possui de tão bom para continuar durante todos esses anos sendo estudado e lido. Não é como em Dom Casmurro que ainda hoje não chegou-se a uma conclusão quanto a fidelidade de Capitu. Não! Ema Bovary traiu seu marido, traiu mais de uma vez, se tivesse sobrevivido trairia de novo, mas não sobreviveu, foi fraca se suicidou, e depois seu marido morreu de infelicidade ao descobrir sua traição, deixando a pobre da filha completamente desamparada. Mas desculpa, estou acelerando, e começando pelo fim.
Quando eu comecei o livro me veio um sorriso, ah finalmente um livro narrado em primeira pessoa (eu sempre gostei mais desses!). O narrador começa contando da primeira vez que Charles Bovary foi a escola, de seu acanhamento e do seu atraso. Porém, meu sorriso logo se esvaiu, não sei se propositalmente ou por um lapso o senhor Flaubert passou para um narrador em terceira pessoa completamente distante, quase invisível, o autor buscou manter um distanciamento que para um leitor desatento passaria por uma simples descrição, sem julgar o caso. O que não é o caso.
Apesar de o romance começar com a história de Charles, a protagonista é Ema. Porém, para chegar nela o narrador conta a vida de Charles, que estudou medicina sem se aplicar muito. Conseguiu um posto e uma mulher, viúva ciumenta que morre logo no início, implorando por um pouco de amor. Mas, Charles já está inclinado para Ema, que é a filha de um fazendeiro de que ele tratou, e continuou visitar, muito provavelmente por causa dos grandes olhos de sua filha. Ema, que recebera uma educação cristã, mas tinha uma visão muito distorcida da religião, voltara para morar com o pai, e tinha a cabeça, assim como Dom Quixote, cheia de romances, dos quais ela tirou um ideal de amor.
Depois do tempo de luto necessário para Charles, eles se casam, e logo Ema descobre que seu marido é simplesmente medíocre. Quando eles são convidados para um baile no castelo de um visconde, ela sai toda encantada imaginando como seria ter aquela vida, enquanto ele apenas se resigna de que aquela não é a vida deles, e que é bom voltar para casa.
Ema se desaponta e se desilude e adoece. Charles decide que é melhor eles mudarem de região, e vão morar em uma vila, que no mínimo daria um bom quadro, todo mundo é tão típico. A taverneira viúva e atarefada, o empregado manco, os vizinhos fofoqueiros, o padre, o faz tudo, o quieto e o extrovertido (são as conversas entre o padre e o farmacêutico Homais que fazem o livro valer a pena!). Assim que o casal lá chegam já entram em contato com grande parte deles, e Ema já faz amizade com o jovem Leon, e por quem acaba se apaixonando, contudo nada acontece, pois ele parte para a cidade afim de estudar. Ela sozinha e desiludida conhece Rodolfo jovem rico que vive de rendas e já tivera várias amantes e se decide por ter aquela bela mulher.
É claro que consegue. No dia em que o ato se consuma, Ema volta para casa exultante se sentindo, e Charles no seu conformismo, também a acha mais bela, se gaba da sua mulher, para quem ele é todo amores. (Um pouco antes disso eles tiveram uma filha, que é completamente esquecida, um personagem completamente desnecessário! - me desculpa, ela é tão inútil que eu não consegui encontrar um lugar coerente para colocar o seu nascimento). Os amores entre Ema e Rodolfo continuam, todos na cidade suspeitam, Ema é completamente inescrupulosa. Eles então decidem fugir, mas Rodolfo desiste no último segundo, deixando Ema acabada, com uma carta um tanto insensível. Ela cai doente mais uma vez.
Aos poucos, e com muito cuidado do seu marido, ela se recupera. Na primeira chance de lhe agradar Charles a leva para o teatro na cidade, onde eles reencontram Leon. Ema então embarca em mais um caso, sendo a primeira cena disso um tanto pesada, eles ficam em uma espécie de carro por horas, de cortinas fechadas, fazendo sabe-se lá o que.
O romance continua.. ela traindo, ele achando que tudo em casa vai bem. Porém, há um outro problema, Ema tinha assinado muitas letras (seria como comprar a crédito) e o mercador resolvera cobrá-la de tudo, uma soma muito alta que ela não sabia como conseguir. Pediu a Leon que a deixou na mão, pediu para um homem rico que queria algo em troca, pediu para Rodolfo, humilhando-se, e ele também não tinha. No seu desespero Ema vai a farmácia, e convence o ajudante, Justino, que era apaixonado por ela, a abrir uma sala em que Homais guardava seus produtos, e lá se envenena com arsênico. E depois de algumas horas morre agonizando. Uma parte um tanto longa, para um fim no qual Charles descobre-se traído e morre sem nenhuma explicação.
Nem deveria ter me estendido tanto por um livro um tanto chato. Mais um último comentário, prometo, da minha primeira leitura eu lembro de ter achado um absurdo as pessoas considerarem ela tão devassa, afinal foram só dois amantes. Acho que eu não entendia tanto de monogamia a menos de 5 anos atrás. Sério, hoje parece horrível! Não basta trair com uma pessoa, tem que ser com duas que você ama até a morte mas não pode nem se esforçar um pouquinho pelo tonto do seu marido que te ama tanto?!
Sinceramente, apesar de ser um cânone, eu não consigo encontrar o que ele possui de tão bom para continuar durante todos esses anos sendo estudado e lido. Não é como em Dom Casmurro que ainda hoje não chegou-se a uma conclusão quanto a fidelidade de Capitu. Não! Ema Bovary traiu seu marido, traiu mais de uma vez, se tivesse sobrevivido trairia de novo, mas não sobreviveu, foi fraca se suicidou, e depois seu marido morreu de infelicidade ao descobrir sua traição, deixando a pobre da filha completamente desamparada. Mas desculpa, estou acelerando, e começando pelo fim.
Quando eu comecei o livro me veio um sorriso, ah finalmente um livro narrado em primeira pessoa (eu sempre gostei mais desses!). O narrador começa contando da primeira vez que Charles Bovary foi a escola, de seu acanhamento e do seu atraso. Porém, meu sorriso logo se esvaiu, não sei se propositalmente ou por um lapso o senhor Flaubert passou para um narrador em terceira pessoa completamente distante, quase invisível, o autor buscou manter um distanciamento que para um leitor desatento passaria por uma simples descrição, sem julgar o caso. O que não é o caso.
Apesar de o romance começar com a história de Charles, a protagonista é Ema. Porém, para chegar nela o narrador conta a vida de Charles, que estudou medicina sem se aplicar muito. Conseguiu um posto e uma mulher, viúva ciumenta que morre logo no início, implorando por um pouco de amor. Mas, Charles já está inclinado para Ema, que é a filha de um fazendeiro de que ele tratou, e continuou visitar, muito provavelmente por causa dos grandes olhos de sua filha. Ema, que recebera uma educação cristã, mas tinha uma visão muito distorcida da religião, voltara para morar com o pai, e tinha a cabeça, assim como Dom Quixote, cheia de romances, dos quais ela tirou um ideal de amor.
Depois do tempo de luto necessário para Charles, eles se casam, e logo Ema descobre que seu marido é simplesmente medíocre. Quando eles são convidados para um baile no castelo de um visconde, ela sai toda encantada imaginando como seria ter aquela vida, enquanto ele apenas se resigna de que aquela não é a vida deles, e que é bom voltar para casa.
Ema se desaponta e se desilude e adoece. Charles decide que é melhor eles mudarem de região, e vão morar em uma vila, que no mínimo daria um bom quadro, todo mundo é tão típico. A taverneira viúva e atarefada, o empregado manco, os vizinhos fofoqueiros, o padre, o faz tudo, o quieto e o extrovertido (são as conversas entre o padre e o farmacêutico Homais que fazem o livro valer a pena!). Assim que o casal lá chegam já entram em contato com grande parte deles, e Ema já faz amizade com o jovem Leon, e por quem acaba se apaixonando, contudo nada acontece, pois ele parte para a cidade afim de estudar. Ela sozinha e desiludida conhece Rodolfo jovem rico que vive de rendas e já tivera várias amantes e se decide por ter aquela bela mulher.
É claro que consegue. No dia em que o ato se consuma, Ema volta para casa exultante se sentindo, e Charles no seu conformismo, também a acha mais bela, se gaba da sua mulher, para quem ele é todo amores. (Um pouco antes disso eles tiveram uma filha, que é completamente esquecida, um personagem completamente desnecessário! - me desculpa, ela é tão inútil que eu não consegui encontrar um lugar coerente para colocar o seu nascimento). Os amores entre Ema e Rodolfo continuam, todos na cidade suspeitam, Ema é completamente inescrupulosa. Eles então decidem fugir, mas Rodolfo desiste no último segundo, deixando Ema acabada, com uma carta um tanto insensível. Ela cai doente mais uma vez.
Aos poucos, e com muito cuidado do seu marido, ela se recupera. Na primeira chance de lhe agradar Charles a leva para o teatro na cidade, onde eles reencontram Leon. Ema então embarca em mais um caso, sendo a primeira cena disso um tanto pesada, eles ficam em uma espécie de carro por horas, de cortinas fechadas, fazendo sabe-se lá o que.
O romance continua.. ela traindo, ele achando que tudo em casa vai bem. Porém, há um outro problema, Ema tinha assinado muitas letras (seria como comprar a crédito) e o mercador resolvera cobrá-la de tudo, uma soma muito alta que ela não sabia como conseguir. Pediu a Leon que a deixou na mão, pediu para um homem rico que queria algo em troca, pediu para Rodolfo, humilhando-se, e ele também não tinha. No seu desespero Ema vai a farmácia, e convence o ajudante, Justino, que era apaixonado por ela, a abrir uma sala em que Homais guardava seus produtos, e lá se envenena com arsênico. E depois de algumas horas morre agonizando. Uma parte um tanto longa, para um fim no qual Charles descobre-se traído e morre sem nenhuma explicação.
Nem deveria ter me estendido tanto por um livro um tanto chato. Mais um último comentário, prometo, da minha primeira leitura eu lembro de ter achado um absurdo as pessoas considerarem ela tão devassa, afinal foram só dois amantes. Acho que eu não entendia tanto de monogamia a menos de 5 anos atrás. Sério, hoje parece horrível! Não basta trair com uma pessoa, tem que ser com duas que você ama até a morte mas não pode nem se esforçar um pouquinho pelo tonto do seu marido que te ama tanto?!
Assinar:
Postagens (Atom)